Recordando Helgi

Gelgi

Helgi Hóseasson morreu há menos de um mês em Reiquejavique. Tinha 89 anos e era uma das figuras mais conhecidas da cidade. Desde 1962, quando tentou «desbaptizar-se», iniciando então um combate público contra a igreja nacional e o governo, que se comportava como um manifestante «profissional», sempre solitário, num país onde atitudes dessa natureza eram consideradas próprias de inimputáveis. Em 1972 obteve notoriedade internacional quando despejou skýr – um produto similar ao iogurte – sobre o bispo da Islândia, o presidente da República e diversos membros do parlamento. Era visto todos os dias num cruzamento da capital, segurando placas com reivindicações ou palavras de ordem, muitas das vezes escritas num registo poético, sobre temas como as relações entre Estado e Igreja, as iniciativas dos líderes políticos, ou a decisão do governo islandês de apoiar a guerra do Iraque. No contexto da brutal crise na qual a «próspera» Islândia recentemente caiu, a sua determinação tornou-se uma espécie de símbolo, um exemplo de inconformismo, estando neste momento em curso uma campanha pública, que reuniu já perto de 28.000 assinaturas (num país com apenas 317 mil habitantes), para que seja erguida uma estátua em sua memória. Em 2003 foi rodado um documentário sobre a sua vida – Mótmælandi Íslands (O Manifestante da Islândia) –, enquanto um museu local acaba de adquirir as placas utilizadas por Helgi por considerá-las parte do património cultural e histórico do país. É bom saber que existem lugares onde as figuras memoráveis, que deixaram um rastro, não são obrigatoriamente «pessoas de sucesso».

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