Um dos meus primeiros heróis literários foi Zane Grey (1872-1939). Nunca saberei, nem jamais alguém saberá, quantos rapazes irrevogavelmente temerários, quantas marias às escondidas das suas mães, com ele descobriram o mundo selvagem, perpetuamente inquieto, no qual cowboys de personalidade estupenda, e caravanas de pioneiros tão cândidos quanto indómitos, enfrentavam hordas de índios bravíssimos e alucinadamente suicidas. Soube hoje, por uma leitura de ocasião, que até se tornar conhecido pelos seus romances populares Grey passou pelo Oeste profundo apenas por uma vez, em 1906, durante uma apressada lua-de-mel. O meu assombro regressou ao perceber por esta via, como nunca antes percebera, de que modo a imaginação de tanta gente foi inoculada, de pais para filhos e depois para os filhos destes, pela mais completa fantasia do tranquilo dentista de uma cidadezinha do Ohio. O homem que ajudou a conceber os índios e os cowboys tal qual os encarnámos – cientes de um mundo justo no qual os bons e os maus conheciam o seu lugar e não desejavam outro –, entre faltas às aulas, postes de electricidade a servir de esconderijo e muros de cimento. Bem longe, como Zane, das pradarias desejadas como cenário de aventura.