ABC das Palavras Obsoletas – 4

A malta

Malta

A «malta» era a maralha. «Eh, malta, éfe-érre-á!», brada ainda por vezes, em dias de guarda, a equipagem estudantil. Amorável e cúmplice, era a maltinha, a maltosa. Na antiga gíria coimbrã aplicava-se à hoste, igualitária à força do companheirismo, dos machos trajados de negro com nódoas de vinho nos fundilhos das calças. Representava também a súcia de indivíduos de má fama, de índole não recomendada às pessoas de bem, vadiando e malandrando como modo de vida. Com maior nobreza, identificava trabalhadores que se deslocavam juntos de um lugar para outro, em demanda de trabalho. Na Casa de Malta, recordava Namora «um casebre meio derruído, sem dono», habitado por «gente erradia», que se podia ver da sua casa do Penedo. Quem a ocupava, escrevia o jovem médico, eram «vagabundos, quase sempre, malteses a cumprir um fado de nómadas que a desconfiança dos outros atiçava, que a miséria deles e dos outros parecia legitimar, ambulantes que mercadejavam adornos ingénuos, campónios de passagem para gloriosos eldorados.» Queria dizer, era «a malta», aquela malta. Em tempos sombrios a malta foi ainda a massa dos «nossos», que nada tinham a ver com «eles», os pousados vampiros: «o que faz falta é animar a malta», cantava o cantor apelando ao despertar dos excluídos. Mas essa malta, a maralha, parece estar desaparecida em combate. Ou anda um tanto desalentada.

    Etc., Olhares.