Xeque ao Boris

Boris Pasternak

O rumor circulava há já algum tempo, mas agora, escreve o ABC e faz eco o Público, parece que se confirma. Boris Pasternak apenas terá ganho o Prémio Nobel da Literatura de 1958 porque, em cima da data-limite para a divulgação do vencedor, a CIA fez um esforço para que um original do Doutor Jivago impresso em russo – o livro tinha sido proibido na União Soviética e no ocidente apenas saíra em italiano numa edição de Gingiacomo Feltrinelli – pudesse chegar, por vias tortuosas, às mãos dos membros da Academia Sueca. O derrotado na corrida foi nada mais nada menos que Alberto Moravia. De Pasternak conheço apenas o livro citado, que li com algum esforço depois de tanto ouvir falar do filme de David Lean, e também alguns poemas dispersos, fosforecentes e rapidamente esquecidos, mas parece ser mais ou menos consensual que não existe paridade, em termos de valor absoluto ou comparado, entre a obra de um e de outro dos autores. A Guerra Fria estava no seu auge e tudo servia, de ambos os lados, para tirar o tapete ao adversário. É preciso sublinhar, para se medir a dimensão da cartada, que Pasternak, falecido dois anos depois da atribuição do prémio que não pôde receber, jamais terá tido conhecimento do que realmente se passou. Uma nova edição do best-seller do autor laureado, «pela primeira vez traduzido do russo» cinquenta anos depois do seu lançamento, acaba de sair em Portugal pelas mãos da Sextante.

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