Olhar cubano

Yoani Sánchez

A entrevista dada pela bloguer cubana Yoani Sánchez, do blogue resistente Generación Y, a Patrícia Silva Alves, jornalista da revista Visão, merece um post inteiro. Mas não será por preguiça que nele me limito a citar, sem mais palavras, algumas das declarações de Yoani.

«Em Cuba, até respirar é um acto político. O Governo, a ideologia e os líderes da revolução estão presentes em qualquer decisão: desde os quilos de arroz que se comem por mês, definidos pelo racionamento, até onde passar férias. Costumo usar uma frase de uma banda rock, muito popular em Cuba, para me definir: ‘Eu não gosto de política, mas ela gosta de mim.’»

«Quando comecei a ler as primeiras novelas sobre a ditadura – estou a falar de obras como O Outono do Patriarca, de Gabriel García Márquez – percebi que havia muitos pontos de contacto entre as personagens e a minha vida.»

«Dos meus 20 colegas de turma só cinco ficaram em Cuba. Os outros emigraram. Mas não penso que fossem esses os seus planos.»

«Desde que entrei no aeroporto [após uma curta estadia na Suíça] – a maneira como te olham os militares de Havana, a maneira como te orientam para onde ir… Penso que essa impressão de controlo me marcou muito, porque vinha de um lugar onde o cidadão tem mais liberdade e, sobretudo, onde é mais respeitado.»

«Recebo muitas manifestações de solidariedade na rua. Isso é, para mim, o termómetro principal de quantas pessoas me lêem em Cuba.»

«Quando comecei o blogue, era um grito solitário. Era um exorcismo pessoal para expulsar muitos demónios: o demónio da apatia, da dor moral, do medo. Mas, aos poucos, esses demónios encontraram-se com os demónios dos outros. E isso fez do blogue uma praça pública onde há de tudo: gritos, insultos, discussões.»

«Cada pessoa que lê umas linhas do meu blogue constrói mais um milímetro do meu escudo protector. Isso não quer dizer que fique impune. Mas agora combate-se Yoani Sánchez na sombra. Com outros métodos. Fazem campanhas de difamação para isolar-me; pressionam os meus familiares e amigos. Esse tipo de coisas mais subtis, mas que também se sentem. Não é preciso estar atrás das grades para uma pessoa se sentir prisioneira.»

«A Cuba que imagino deve ter, pelo menos, um adjectivo: plural. (…) Não me imagino numa Cuba com todos os problemas resolvidos – que nunca a teremos assim – mas numa Cuba onde os cidadãos tenham a possibilidade de apontar as soluções em que acreditam.»

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