Sobre a Birmânia (ainda), ou por causa dela


A atitude diante do que se passa actualmente na Birmânia funciona como um bom exemplo do estado de objectiva crueldade a que podem chegar os sectores que em questões de política internacional colocam como prioritário, acima de quaisquer outras considerações, o combate sem cedências ao «inimigo principal». Receando fornecerem argumentos que possam servir a defesa de medidas castigadoras da atitude sanguinária dos pulhas da junta militar – como a instauração imediata de um severo bloqueio às actividades da junta no poder, ou a rápida imposição de uma intervenção humanitária –, e de com essa posição poderem aproximar-se das posições intervencionistas dos governos ocidentais, preferem calar-se, sem aparente incómodo, diante da bestialidade e do comportamento genocida. Preferem considerar o respeito elementar pela vida humana como algo que deve ser ponderado caso a caso, de acordo com determinados objectivos estratégicos. Não o fazem por cobardia: apenas faz parte da sua carga genética ideológica.

Enquanto termino este post, chega nova informação: os governantes birmaneses recusaram a entrada no país dos elementos da AMI que pretendiam auxiliar as vítimas do ciclone. Não, não se passa «numa galáxia muito, muito distante…».

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