Higiene oral

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Se tivesse a certeza de que o Senhor Director-Geral me leria, escrever-lhe-ia uma carta registada e com aviso de recepção. Nela apresentaria os meus melhores cumprimentos e mais três queixosos parágrafos.

Protestaria no primeiro contra a inacção das autoridades diante do persistente hábito lusitano, digno de uma extra-europeia viela de casbah, de cuspir para o chão. Bem sei que os escarradores já não constam do inventário das repartições e que as novas gerações parecem salivar menos, mas consideraria inadmissíveis as imundas excepções com as quais nos cruzamos ainda com razoável frequência. Escreveria outro parágrafo sugerindo a criação de cursos de formação destinados a ensinar, àquelas pessoas que falam exalando nuvens de salpicos bocais, a forma de superarem esse asqueroso hábito. No último parágrafo, apresentaria uma queixa contra a falta de legislação capaz de controlar a prática rotineira – persistente até entre numerosos letrados – de folhear livros e jornais destinados ao público recorrendo à dose equilibrada de saliva que depositam laboriosamente no dedo médio de uma das mãos.

Terminaria a carta com os meus cordiais votos (atrasados, embora sinceros) de um óptimo 2008. Inseriria a folha num envelope que, por fim, fecharia recorrendo à minha humedecida língua. E passaria depois pela estação de correios mais próxima.

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