Escritores da Liberdade

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No âmbito de uma das correntes que neste momento deslizam entre os blogues que se expressam em português, Joana Lopes considerou-me merecedor do «Prémio Escritores da Liberdade». Agradeço a lembrança e a simpatia, perdoando-lhe o exagero óbvio. Desta vez, porém, não me sinto capaz de manter a esperada sequência. Procurando não ser demasiado verboso – e menos ainda um grande chato – tento explicar porquê.

Como poderemos encontrar, no universo dos blogues, um «escritor da liberdade»? Um dos critérios será, naturalmente, seguir a trajectória do blogger, confirmando tanto quanto possível o seu papel, pela escrita e pela acção, e em todas as circunstâncias, na defesa da democracia e na afirmação da liberdade de expressão. Não vale, por exemplo, um resistente antifascista que no passado tenha fechado ou que hoje feche os olhos a múltiplas formas de coação da livre expressão da palavra. Esse jamais será um «escritor da liberdade».

Outro critério, mais lato e difícil de definir, situá-lo-á como aquele que actualmente seja capaz de pensar de forma autónoma e de exercer o direito à crítica sem pensar se aquilo que escreve ou diz se conforma com este ou aquele modelo. Chamemos-lhe escritor-herói: o que sistematicamente utiliza os instrumentos que tem à mão – um blogue, por exemplo – para escapar à lógica de padronização e de conivência que domina hoje a política e a comunicação social mainstream. E, mesmo de entre estes, só poderão verdadeiramente contar aqueles que forem capazes de exercer até ao fim a responsabilidade e a convicção do seu gesto, dando o nome, um contacto, e, quando necessário, também a cara. De outra forma, a sua ousadia facilmente se transforma em nada.

Nestas condições e feitas as contas – que não consideram muitos dos que já foram premiados, entre eles alguns dos nossos comuns amigos –, peço desculpa mas confesso-me incapaz de apontar mais do que dois ou três bloggers que conheço suficientemente bem para garantir a justeza do distintivo. Como julgo que eles pensam mais ou menos como eu, prefiro não os desafiar.

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