Um caso à beira-serra

Ao falar do comportamento dos dois senhores agentes da PSP que entraram armados em bufos dentro da sede sindical na Covilhã, Ângelo Correia, na televisão, colocou, em forma de boutade, o dedo na ferida: «No tempo do Dr. Mário Soares como primeiro-ministro isto nunca aconteceria.» Quando a cultura da liberdade passa a ser apenas uma florzinha rubra na lapela no dia vinte e cinco do quatro, e todos os atropelos se desculpam em nome da eficácia ou da autoridade do Estado, coisas destas acontecem. E eu até nem sou soarista. Nem ele, o Dr. Ângelo.

Adenda: «O ministro da Administração Interna considera que, com base no relatório preliminar divulgado hoje pelo inspector-geral da Administração Interna sobre a visita da PSP às instalações do Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC) na Covilhã, segundo o qual a polícia não cometeu qualquer infracção, que ‘não há lugar à instrução de processo de inquérito ou processo disciplinar’.» [Público online]
Tudo bem, portanto. E assim fica aquela gente a saber que pode agir impunemente. Que o poder político a protege e compreende. Afinal, atemorizar cidadãos não é, só por isso, crime previsto no código penal. Como o bicho-papão, o polícia mau faz parte do nosso imaginário colectivo e é conveniente que nele permaneça.

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