Apenas palavras

Neste caso a memória permanece estranhamente presente. Tudo se esquece com facilidade, menos aquelas imagens cintilantes de aviões sob um céu azul, que sabemos lotados de passageiros em pânico, a colidirem em fogo contra as enormes torres de cimento, vidro e aço atulhadas de pessoas distraídas com a sua vida. Tudo se esquece menos o momento no qual soubemos que jamais voltaremos a jurar, onde quer que nos encontremos, que estamos em completa segurança. Menos perceber, como sugere Slavoj Žižek, «a ideia da existência de um agente Maligno que faz pairar constantemente sobre nós a ameaça de uma destruição total». A certeza, por mais debates que se façam sobre o conflito ou o entendimento das religiões – com todos os mulás, rabis, padres e demais pastores jurando sobre o seu livro, pelas barbas ou pelo sangue de um qualquer profeta, a benignidade essencial da sua -, de que podem as simples palavras, ou as boas intenções, não servir para nada.

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