Gramática das gerações

Todos temos a noção da existência de declives, ou mesmo de despenhadeiros, entre o que vulgarmente chamamos gerações. Os historiadores sabem-no ainda melhor, dado que, para além da perceção empírica comum a toda a gente, desenvolvem todos os dias um trabalho de compreensão mais alargado, comparativo e situado numa escala longa do tempo. Conhecem bem, a par sobretudo dos sociólogos e dos antropólogos, o modo como esta transformação sofre hoje uma espécie de expansão geométrica, conduzindo esta a que o que se designa «salto geracional» seja cada vez mais curto. O que outrora demorava milénios a mudar, passou a levar séculos, depois décadas, mais recentemente apenas alguns anos, cada vez menos.

A experiência como professor tem-me servido também de barómetro, notando agora alterações profundas a cada dois, o máximo três anos letivos, quando de início uma transformação nítida demorava pelo menos o triplo. A velocidade e a densidade da informação estão na origem desta vertigem, nada havendo a fazer que não seja um esforço – a desenvolver também no plano político – para que cada grupo etário conviva bem com a diferença geracional, da mesma forma que aceita viver com a diversidade identitária. Trata-se de um trabalho árduo e moroso, e mesmo quem tenha consciência da sua necessidade perde muitas vezes a paciência com práticas, gostos, vocabulários que usam uma gramática mutante. Não existe, porém, outro caminho.

[Fotografia: Emile Guillemot]

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