Feios, porcos e maus

Vi fragmentos da gravação em vídeo da reunião do governo brasileiro presidida por Jair Bolsonaro que está a espantar meio planeta. Há a dimensão do conteúdo, a mais grave e impressionante: momentos de defesa explícita de interesses pessoais, uso constante do palavrão para falar de terceiros, verbalização das maiores vulgaridades, agressividade latente em discursos lançados contra tudo e todos, sob a caótica direção de um sujeito na aparência indiferente ao que se passa, salvo às suas próprias palavras. Parece a sequência de um filme de terceira categoria sobre a máfia italo-americana, onde cada personagem é um patético cliché.

Mas depois há a paisagem envolvente: aquelas mesas cobertas com um pano branco como numa exposição de bibelôs kitsch, as cadeiras de salão de festas dos bombeiros onde não cabe o traseiro da maioria dos participantes, a quase completa ausência de computadores, apenas homens de fato escuro praticamente em cima uns dos outros, na disposição corpórea de quem está num botequim a defender o seu terreno e a tratar de negócios. Uma coreografia horrível, ostensivamente feia, porca e má, ainda mais indigna e chocante quando se sabe que serve de cenário a decisões sobre a vida e a morte de 212 milhões de pessoas.

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