A responsabilidade morreu solteira

Começou pelos treinadores de futebol, depois passou para os bruxos, de seguida para os presidentes das distritais partidárias, e agora parece que se generalizou. Falo daquela expressão utilizada quando a equipa perde, quando o feitiço falha, quando as eleições foram um desastre, ou quando um casamento falha: «assumo a responsabilidade». Frase à qual não corresponde depois qualquer acto de reparação que dê sentido à exibição da culpa. Wen Jiabao, o moderno primeiro-ministro chinês, entra na onda ao assumir a responsabilidade do seu governo no escândalo do leite contaminado (em larga medida possível, parece óbvio, pelo estado de selvajaria no qual prospera o «segundo sistema» chinês). Consequências políticas? Nenhumas, claro. Ou provavelmente a substituição de dois ou três funcionários, mas a intocabilidade do autoproclamado supremo «responsável». No futebol, despede-se um sub-director qualquer. Entre os bruxos muda-se, quanto muito, de filtro ou de criptónimo. Dentro dos partidos espera-se que passe. Nos casamentos pede-se perdão. E la nave va.

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