Mais que quaisquer outros momentos eleitorais, as autárquicas – disputadas num território essencial da nossa democracia – comportam bastantes vezes alguns equívocos. É certo que em quaisquer atos de natureza política, a qualidade das pessoas que os protagonizam, e se possível a sua proximidade de quem vota, têm grande importância, mas nas eleições autárquicas esse fator de proximidade tem um peso maior. Para o bem e para o mal, diga-se. Por um lado, conhecem-se melhor muitas das pessoas que se candidatam, o que pode ser positivo, por outro, existem por vezes relações individuais que causam os tais equívocos.
Alguns amigos – não me refiro a dois a três, mas a um número apreciável que conheço – optam por votar em listas com as quais politicamente em regra não se identificam porque têm lá, em lugar de destaque, alguém que consideram «boa pessoa». Não me parece, todavia, um grande gesto de consciência política e de cidadania, pois pessoas e projetos podem ter «bondades» muito diversas. Por mim, conheço gente que reputo sem dúvida como «boa», em alguns casos de quem sou até amigo, ou que admiro, em praticamente todos os partidos políticos – quase só com a exceção do Chega, onde o culto do ódio, da violência e da ignorância são incompatíveis com quaisquer qualidades positivas – e não é por isso que vou pelo seu sorriso ou pela palmada nas costas que me podem dar.
No caso da esquerda política a que pertenço, e da cidade em que vivo, a situação piora quando as tais «boas pessoas» se integram em listas que desde o início rejeitaram qualquer aproximação destinada prioritariamente a impedir a direita de se manter no poder, e também a reduzir ao máximo o impacto nos votos da extrema-direita, avançando com projetos que serão votos perdidos. Votar nelas, só porque são boa gente – conheço muitas, que o são mesmo, sem dúvida – constitui um perigoso equívoco. Apoio, por isso, aqui em Coimbra, o projeto que desde o início procurou essa aproximação e tem condições para reerguer a cidade com base numa proposta muito completa e bastante aberta.
Nas eleições do próximo domingo votarei, por isso, na coligação «Avançar Coimbra», que sob a candidatura de Ana Abrunhosa, reúne o Partido Socialista, o Livre, o PAN, os Cidadãos por Coimbra e muitas pessoas independentes. Lamento sinceramente que alguns amigos e pessoas de quem gosto não compreendam o projeto, ou decidam sobrepor-lhe as fidelidades, embora estejam, obviamente, no seu pleno e democrático direito.
Rui Bebiano
