Tim, a WWW e nós

Durante os anos 90, o físico britânico, cientista de computação e professor do MIT Tim Berners-Lee foi, de certa forma, um dos meus heróis vivos. Tendo sido um dos primeiros utilizadores da Internet fora dos espaços próprios da engenharia informática – comecei a usá-la, ainda em inóspitos sistemas Unix, no início dos anos 90, e a minha primeira página Web, já num browser, nasceu em 1995 – não podia deixar de conhecer, e de admirar, o trabalho do homem que, de facto, inventou a World Wide Web. Tornando a «rede das redes», criada vinte anos antes, acessível ao utilizador comum sem que este tivesse necessidade alguma de conhecer técnicas de programação ou de estar ligado a potentes computadores.

Tim, que tem agora 70 anos, deu uma entrevista ao Público saída este domingo. Nela lembra de que forma, naquela época, «a web era maravilhosamente libertadora». Quem a usava nos anos, agora distantes, de pioneirismo, lembrar-se-á ainda do grande entusiasmo de quem a ela tinha acesso por aquela nova forma de conhecimento, de comunicação e, esperava-se, de rápido alargamento das ferramentas da democracia. Recordo bem a primeira vez em que usei a web em casa, no ano de 1994, e de que forma, após um inaugural contacto noturno com uma estação científica situada na Antártida, nem dormi com o entusiasmo e com a antevisão ali à mão de um mundo melhor.

A maior esperança, mas também a que mais cedo ruiu, foi, porém, a de utilizar o instrumento como forma de fazer ouvir melhor a voz do cidadão comum, de conhecer os seus interesses e de os poder exprimir de forma simples e barata. Todavia, em breve o crescimento dos utilizadores, o aumento da velocidade de banda e sobretudo a intromissão de empresas e estados, conscientes de como dele se podiam servir para os seus interesses, começou a afetar a liberdade e a estimular a manipulação. Com a massificação do acesso, o processo tornou-se incontrolável, até chegarmos ao ponto em que nos encontramos. Como lembra Berners-Lee na entrevista, «é bizarro que uma organização sem fins lucrativos se tenha transformado numa com fins lucrativos». No essencial, foi isto que quase tudo alterou.

Foto: Fabrice Coffrini

Rui Bebiano

    Cibercultura, Democracia, Olhares.