Conversa ou monólogo?

As redes sociais são sempre, para o bem e para o mal, um espaço de interação com os demais humanos. Seja qual for o sentido ou a forma do que escrevemos ou mostramos, o resultado será sempre olhado e apreciado por pessoas que não apenas nós próprios ou escassos outros. É claro que podemos sempre criar e comunicar num registo de monólogo, mas ainda assim serão pessoas distintas a ler-nos, a ver-nos, eventualmente a julgar-nos, concordando ou discordado do que dizemos, ou seguindo em frente sem mostrar interesse.

Por este motivo, e sobretudo quando quem comunica pretende emitir uma opinião, fazer um apelo, mostrar um agrado ou um desagrado, não faz sentido escrever de forma críptica, impedindo quem lê ou vê de, mesmo com informação suficiente e prática de leitura, entender minimamente onde se pretende chegar. Pior ainda quando o faz numa daquelas frases curtas em bold e com fundo colorido, fazendo com que quem leia, muitas vezes por real admiração ou amizade, fique a pensar que está com dificuldades de discernimento.

Em toda a comunicação humana deve existir, sempre e necessariamente, aquilo a que se chama «o referente». Isto é, a expressão – oral, escrita ou pictórica – daquilo a que se alude e serve de ponte, ou de elo, entre quem fala e quem escuta. É claro que temos sempre, e principalmente em democracia, o direito ao delírio, mas este não serve de grande coisa na aproximação entre humanos. Como dizia em tempos um conhecido comentador televisivo de futebol, deixando intuir o tal referente, «vocês sabem do que estou a falar».

[Originalmente no Facebook]

    Apontamentos, Devaneios, Olhares.