Os partidos políticos não são…

Os partidos políticos não são afáveis e alegres grupos de amigos que, com algumas reuniões de permeio, convivem entre si e fazem excursões. São compostos por pessoas muito diferentes, unidas por convicções comuns, que transportam para dentro do todo formas de ser e de estar também muito diversas. Isto ainda se nota mais nos partidos de massas e de poder, sempre maiores, e que integram, mais que os outros, pessoas que em certas alturas deles se aproximam por um impulso ou por oportunismo.

A diversidade é sempre positiva e um fator de democracia interna, mas deixa de o ser quando a variedade se cristaliza em grupos de pressão e é atravessada pelo arrivismo de quem os corporiza. Nestas circunstâncias, os militantes dedicados, íntegros, com sentido de causa, são frequentemente questionados, e quase sempre ultrapassados, pelos que encaram a militância política sob uma perspetiva corporativa, defendendo mais o grupo e os seus interesses imediatos do que ideais. Que estas pessoas têm até dificuldade em conceber, assimilar e exprimir.

Isto não traduz uma atitude «antipartidos», cada vez mais comum, que é uma forma de ser-se antidemocrático. Se a democracia não se esgota nos partidos, e deve até encontrar formas diversas de escutar e dar voz ao cidadão comum, ela não pode viver sem os partidos, que são a voz da soberania transmitida através do voto e da representação. A velha frase de Churchill sobre a democracia ser o pior dos sistemas, «salvo todos os outros», continua a fazer sentido e, sob este aspeto, o que há a fazer é aperfeiçoar os sistemas eleitorais, melhorar a democracia interna nos partidos e ajudar a desenvolver a cultura política dos cidadãos.

Todavia, quando um partido cede ao espírito de grupo e, em vez de espelhar um amplo setor da sociedade e um projeto de futuro comum, passa a traduzir os interesses de um agrupamento de pessoas que nele tem conjunturalmente acesso à direção e à tribuna política, algo está mal. E o caminho para a degradação e a perda de relevância começam a ser cavados. A história recente da Europa mostra como partidos que tiveram apoio de milhões rapidamente se despenharam até à irrelevância. Como diria um conhecido e pícaro comentador, «vocês sabem de quem estou a falar».

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