Kindlemania (o epílogo)

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Ficou prometido há semanas um último post sobre a minha experiência com o Kindle. Para além das voltas da vida que se dão bem longe dos computadores e da Internet, as razões da demora são duas. A primeira: estava mesmo decidido a escrever o derradeiro comentário apenas quando a minha experiência com o leitor de livros da Amazon estivesse consolidada. Creio que agora já está. A segunda: depois de algumas dúvidas, acabei por comprar também um iPad, que, tal como tinha dito e agora confirmo, não concorre com o Kindle mas disputa um campeonato diferente. Queria ter alguma experiência com a máquina da Apple que me deixasse formular uma comparação minimamente justa. Acho que já a posso fazer.

Estava então a preparar-me para escrever este post quando chegou uma notícia perfeita para ilustrar aquilo que pretendia dizer. Segundo um estudo realizado nos EUA pela JP Morgan, 40% dos possuidores de um iPad têm também um Kindle, enquanto outros 23% contam adquirir um durante os próximos 12 meses. Apesar de separado pelas profundezas do Mar Oceano, estou assim próximo dessa massa anónima de aparentes ou reais geeks. As razões invocadas pela maioria explicam o desperdício que esta duplicação parece representar. O preço comparativamente bastante baixo do Kindle é uma delas, sem dúvida, mas ainda assim não será suficiente para explicar os números apresentados. No entanto, as coisas mudam de figura quando os utilizadores de ambos os aparelhos falam das vantagens deste último como leitor de e-books: muito mais leve, bastante mais pequeno, com uma autonomia de bateria soberba, com uma superior legibilidade de texto devida à tecnologia e-ink e sobretudo com vocação para a leitura solitária e silenciosa, sem e-mails que chegam, feeds que apitam, música que toca, imagens para ver ou retocar, documentos para escrever, revistas para ler ou sinais de vida das redes sociais que se agitam. Como acontece a quem tenha um iPad ligado entre as mãos.

A máquina da Apple é de uma utilidade extrema – nada do simples brinquedo para adultos do qual fala quem fala de cor ou viu só por alto – e devo admitir, sabendo que não sou o primeiro a quem isso aconteceu, que a partir do dia em que a adquiri não mais saiu de casa o meu pobre e provavelmente abandonado netbook. Mas a confiança, e até a cumplicidade, que sentia – e continuo a sentir, se é que é preciso dizê-lo – pelo velho livro em papel que me preenche a vida e recheia as paredes, essa cedi-a ao Kindle, não ao iPad. Pelo menos por enquanto, pois nestas coisas das tecnologias de ponta (e mola) diz a experiência que é sempre bom acrescentar um «sei lá» a qualquer afirmação categórica.

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