U2? Not me.

U2

No princípio gostei moderadamente da música dos U2. E ainda oiço bem alguns dos temas mais antigos, saídos dos primeiros álbuns. Boy (1980) e October (1981) são rudes, ingénuos, verdadeiros como a primeira bebedeira. War (1983) já integra a intervenção política como parte da arte do grupo (oiça-se o épico «Sunday, Bloody Sunday»). Por sua vez, The Unforgettable Fire (1984) é um álbum mais elaborado, quase adulto, com a produção decisiva de Brian Eno e Daniel Lanois a sublinhar as melodias e a guitarra de The Edge a moderar o protagonismo de Bono. The Joshua Tree (1987), prolonga-o em parte, sendo o último que ouvi com algum prazer. A partir do disco seguinte, Rattle And Hum (1988), a banda «americaniza» a produção, globalizando-se e tornando-se o «supergrupo dos megaconcertos» que hoje conhecemos (Achtung Baby, de 1991, e blá-blá por aí fora).

Como acontece tantas vezes neste terreno movediço da música popular, a fixação numa sonoridade repetida e sem chama tornou-a mais facilmente reconhecível, fazendo-a chegar a um sector de público com menos interesse pelo áspero e pelo autêntico. E com maior vontade de ouvir aquilo que já ouviu e que espera continuar a ouvir até à eternidade. Os U2 são agora um mero produto de mercado, como um Big Mac ou a Lady Gaga, e até a sua «rebeldia» foi completamente incorporada na máquina de fazer dinheiro que promove a imagem industrial de um «grupo de causas» com a mesma facilidade com que num mercado se vendem t-shirts do Che ou medalhinhas com a efígie do papa ou de Lenine.

É esta a banda que vai estar em Coimbra nas noites de 2 e 3 de Outubro, em concertos, esgotadíssimos há quase um ano, com bilhetes a 125 euros (entretanto inflacionados para 200 ou mais). Por mim, que moro a dez minutos do local do crime, vou passar ao lado: a música recente dos U2 não me interessa de todo, as versões antigas são tocadas em piloto automático e não sou suficientemente basbaque para me deixar impressionar com a «aranha» e a pirotecnia megalómanas que a magnânima Câmara da cidade ajudou a financiar com a módica quantia de 200.000 euros. Além disso, não me apetece encontrar-me com o Pedro Passos Coelho ou algum clone seu. «É uma coisa que me chateia, pá.»

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