Piratas ao largo

Piratas

Em Utopias Piratas, Peter Lamborn Wilson, poeta e ensaísta americano conhecido também como Hakim Bey, toma como figuras centrais determinados esquecidos da História. São os renegados, europeus fugitivos ou inadaptados, convertidos ao Islão por necessidade, que nos séculos XVI e XVII encontraram como porto de refúgio a república de Salé, na costa atlântica marroquina, junto àquela que é hoje a cidade de Rabat. Ali ajudaram a erguer um tipo particular de governo, definido por Wilson como um enclave proto-anarquista, uma micro-sociedade autogovernada por bandidos dos mares, que conseguiu sobreviver à margem das leis e das coroas, permitindo aos seus moradores manter padrões de governação, crenças e estilos de vida que na Europa dos Estados centralizados e da intolerância religiosa e moral jamais lhes seriam tolerados. Daí ter sido transformado em lugar convidativo para alguns salteadores célebres, como o inglês John Ward e o holandês Jan Jaansz (que ali adoptou o nome de Morat Reis), ou para toda uma turbamulta de marinheiros anónimos que confluíam para aquele lugar, ávidos de saques e de uma vida aparentemente fácil e emocionante. Wilson descreve o território de Salé e a sua forma de governo como modelo inicial de um tipo de sociedade que se deslocará depois para a região das Caraíbas e para o Índico, e que pela intervenção posterior da literatura de viagens e do cinema de aventuras integrará rapidamente o imaginário colectivo ocidental. [Peter Lamborn Wilson, Utopias Piratas. Trad. de Miguel Mendonça. Deriva, 180 págs.]

    História.