N’Gola ritmo

Angolanos

A propósito da visita a Portugal de José Eduardo dos Santos, presidente do MPLA e chefe supremo da clique cleptocrática que neste momento dirige um grande país onde a democracia, a transparência e o respeito pelos menos protegidos tardam em chegar, parece-me aceitável a posição do governo recebendo educadamente o chefe de Estado angolano e tratando com ele de uma forma normal. Afinal, com mais de 100.000 portugueses a trabalharem em Angola e muitas centenas de empresas e instituições envolvidas em negócios e projectos, com a grande tradição cultural e (assumidamente) histórica partilhada pelos dois países, seria de uma irresponsabilidade total insistir no carácter não-democrático e corrupto do poder instalado em Luanda voltando as costas aos seus circunstanciais porta-vozes. Mas é também justa a posição do Bloco de Esquerda ao recusar participar na parte teatral da visita: não estando no poder, o Bloco pode assumir uma atitude de princípio que exprime, tenho a certeza, aquilo que a maioria dos portugueses verdadeiramente pensa. Não faz sentido, pois, a rábula de Vital Moreira referindo-se à atitude frontal dos bloquistas como «falta de sentido de Estado». Nem, uma vez mais, o silêncio conivente do PCP, que não precisa de mostrar «sentido de Estado» mas ainda pensa o MPLA como uma espécie de «partido-irmão» subtropical que é necessário proteger.

    Atualidade, Opinião.