O S. João e a broa de Avintes

Lamento Tiago (Barbosa Ribeiro), mas nunca percebi, e continuo sem perceber, o que de especial, ou de particularmente democrático, tem a «folia» sanjoanina do Porto. Apesar de já a ter experimentado algumas vezes, chegando a madrugar sujo, suado e namorado em Matosinhos. Sempre a achei uma festa desenxabida e popularucha, com toda a gente a noite inteira a caminho de lado algum, a fazer de contas que está muito feliz e assaz contente. Por isso mesmo o Estado Novo a tolerava sem problemas. E agora, como dizia uma festeira raçuda entrevistada pela televisão, «divertimo-nos muito, senhor: damos umas marteladas e comemos sardinhas». A comparação com o Santo António lisboeta é inevitável: este é também um vestígio de um passado pouco edificante, ainda muito marcado pela intervenção folclorista do SPN/SNI, que de positivo tem apenas o facto de não ser apresentado, como acontece com o S. João no Porto, como «a festa de toda uma cidade». Quando vejo os assomos de «pimbalhismo» e de afirmação provinciana e palonça de uma dada identidade em que se transformaram estas paródias – aproveitadas, além do mais, pela pior demagogia eleiçoeira –, recordo sempre uma frase que ouvi há alguns anos numa estação regional de rádio: «Dizem que em Avintes só há broa, mas há mais, há muito mais do que isso: também há broa com chouriço».

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