À mercê do medo

Medo na cidade

Desprovidos de panoramas do futuro, mas intimados a cada dia a definir mais e mais objectivos, sobrevivemos à mercê do medo.

«O progresso, que foi outrora a mais extrema expressão de um optimismo radical, promessa de felicidade universal e eterna, cedeu o seu lugar ao pólo oposto, anti-utópico e fatalista, das previsões: hoje em dia, representa a ameaça de uma evolução impiedosa e inesquivável, que não pressagia paz nem tranquilidade, mas crises e tensões contínuas, ao mesmo tempo que nos não consente um momento de repouso; uma espécie de jogo de “quem vai ao ar, perde o lugar”, em que a mais pequena distracção implica uma derrota irreversível e a exclusão sem concessões. Em lugar das grandes esperanças e sonhos dourados, o progresso suscita noites de insónia, semeadas de pesadelos, em que nos vemos ficar para trás, perdemos o comboio ou nos atiramos da janela de um automóvel que, entretanto, acelera o andamento.»

Zygmunt Bauman, «Em busca de refúgio na Caixa de Pandora» (in Confiança e Medo na Cidade)

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