O voto, o nosso voto e o meu voto

1. Em democracia, não votar é deixar para os outros decisões sobre um destino que é de todos. Quando modelos opostos de sociedade se confrontam nas urnas, mais necessário é assumir esse momento de escolha. Circunstâncias várias – ponderar culpas não é o importante neste momento – transformaram as atuais eleições num combate desta natureza. Não pode, por isso, manifestar-se indiferença perante a alternativa que está em cima da mesa: ou manter em aberto uma governação essencialmente progressista, moderna, solidária e voltada para os direitos da cidadania; ou regressar ao sombrio passado fechado em 2015, sabendo-se que, para conseguir governar, a direita terá de incluir correntes defensoras do recuo do Estado-providência, da prioridade da iniciativa privada, da desigualdade e do ódio social.

2. Por isso, os homens e as mulheres com uma consciência política situada à esquerda não podem ficar em casa, indiferentes e à espera que outros decidam por eles ou elas. Contra a ameaça da direita revanchista, devem ir votar e procurar convencer quem puderem a ir também votar. E que o façam num dos partidos da sua grande área com a possibilidade de eleger deputados e de colaborar numa solução de estabilidade, que não passará forçosamente pela construção de uma maioria absoluta. Porque neste momento não me revejo, ao ponto de apelar abertamente ao voto em qualquer desses partidos – por ordem alfabética: Bloco de Esquerda, Livre, Partido Comunista Português (CDU) e Partido Socialista –, apenas sugiro a quem me lê que escolha um deles. E que no dia 30 não deixe mesmo de votar.

3. Nesta linha, de modo algum deixarei de ir depositar o meu voto. Exprimindo-o de forma objetiva: essencialmente pragmática e útil, destinada, acima de qualquer outro pressuposto, a impedir uma eventual vitória da direita. Mas também a criar no parlamento condições para erguer um governo progressista de compromisso e convergência. Ganharei sempre (nós, que não queremos o retrocesso, ganharemos sempre) se for a direita a perder, permanecendo arredada do poder. Isto é, neste momento, o mais importante. Por isso, ENCOLHER OS OMBROS E FICAR EM CASA, seja por indiferença, preguiça ou alguma animosidade transitória, NÃO PODE SER SOLUÇÃO.

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