Girassol

Nem bancos de lama,
nem água negra e lodosa
cheia de pinhas de amieiro e folhas corroídas.

Nem salsa-brava no inverno
canelas e pulsos velhos e esbranquiçados,
com a sua sibilância, o seu tremor.

Nem mesmo o verde vivo de uma sombra veranil
densa com borboletas
e cogumelos bojudos como uma sela de couro.

Não. Mas antes, na quietude de um canto,
agarrado ao seu muro ponteado a seixos,
pesado, pendendo para a terra, todo boca e olhos,

O girassol, num sonho cor de umbra.

Seamus Heaney – fragmento de Trabalho de Campo
(Trad. de Rui Carvalho Homem)

    Olhares, Poesia.