Um olhar participativo

Cultura-mundo

Ultrapassado o tempo no qual a cultura era observada como um sistema completo e coerente de elucidação do mundo, expirada a época da separação rigorosa entre cultura popular e cultura erudita, entre uma «civilização» das elites e a «barbárie» popular, eis que mergulhámos todos numa terceira fase histórica. A cultura transformou-se agora em mundo, na cultura «do tecnocapitalismo planetário, das indústrias culturais, do consumismo total, dos media e das redes digitais». Em A Cultura-Mundo. Resposta a uma Sociedade Desorientada, Lipovetsky e Serroy observam o fim da busca do sentido último das coisas, das classificações hierarquizadas, substituídas agora pelas redes, pelos fluxos, pelo mercado sem limite ou centro de referência. Todavia, «os novos tempos hipermodernos» não são aqui enfrentados com pessimismo, sendo antes observados como um território de acção e descoberta, num mundo cuja circunferência está em toda a parte e cujo centro não se encontra em lado algum. A infindável abundância de escolhas, de possibilidades de consumo cultural, permitirá assim, a cada sujeito, a produção de um universo de opções, fazendo com que o comércio de influências convenientemente programadas possa, em determinadas circunstâncias, funcionar como um instrumento libertador. A cultura-mundo desenvolve-se agora em campo aberto, podendo «mobilizar a inteligência e a imaginação dos seres humanos» e não congregar apenas o pessimismo e o ódio dos que a observam a partir de pontos de vista que já prescreveram. É preciso participar nela desenvolvendo as suas virtualidades democráticas e emancipatórias, e não ensaiar a tarefa de a destruir na tentativa vã de ficcionar uma regressão no tempo. [Gilles Lipovetsky e Jean Serroy, A Cultura-Mundo. Resposta a uma Sociedade Desorientada. Trad. de Victor Silva. Edições 70, 248 págs.]

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