O antiexistencialista

Liberdade, liberdade

Mal sabia eu, quando falava há poucos dias, durante uma aula, sobre os processos de emancipação diante dos grandes sistemas doutrinários e de afirmação da liberdade individual postos em movimento depois da Segunda Guerra Mundial, e enquanto recordava essa «cultura da antidisciplina» nascida nos anos 50-60 que enforma ainda boa parte do nosso tempo, que antes de adormecer iria ler esta frase: «temos assistido a uma deriva libertária que vai no sentido de que eu desejo pura e simplesmente, eu quero assim e isso é razão e quase que moral suficiente para seguir independentemente do que os outros pensem ou do que as instituições me peçam, sem ter de dar satisfações a ninguém.» Mas felizmente assim passou a ser. E assim vamos basicamente vivendo dentro do universo imperfeito e cada vez mais complexo, mas apesar de tudo mais livre e geralmente mais feliz do que aquele que o precedeu, erguido ao longo dos últimos sessenta anos. Ainda não o disse, mas e importante: quem pronunciou a frase e se lamentou de um tal estado das coisas – em entrevista de tonalidade retrógrada, defensiva e moralista publicada hoje pelo Expresso – foi D. Manuel Clemente, bispo da Igreja católica e Prémio Pessoa 2009.

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