Gama e o tape recorder

Por via das dúvidas, e não fossem as dioptrias enganarem-me, mudei de óculos por duas vezes. Mas li sempre o mesmo, a mesma afirmação. Para Jaime Gama, o nosso enfadonho presidente da Assembleia da República, que falava durante a apresentação do livro Carlucci vs. Kissinger – Os EUA e a Revolução Portuguesa, é absolutamente fascinante aquela tradição política americana que «regista tudo, que intercepta até as próprias conversas telefónicas para as registar, que grava mesmo as conversas de gabinete», de modo a tornar possível a publicação ulterior de toda essa informação. Será que passam pela mente da segunda figura do Estado as perigosas consequências políticas, e até o carácter desumanizador da vida dentro dos espaços do poder, que podem resultar de processos desta natureza? Ou isso agora já não lhe importa grande coisa? Ou terá falado apenas na óptica do voyeur?

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