O atendedor

De repente o telefone tocou. Passava uma meia hora das onze da noite, e do lado de lá uma voz feminina que era apenas um murmúrio. Palavras que eu não podia compreender, numa língua que não soube identificar. A voz falava baixinho e chorava, num lamento indecifrável. Disse-lhe, em inglês, que tinha muita muita pena mas que provavelmente deveria estar enganada, que eu não era com toda a certeza a pessoa que ela pensava que eu era, que não conseguia de todo entendê-la. Do outro lado, como se eu não tivesse falado, como se a minha voz pudesse ser apenas uma gravação, a mesma mulher prosseguiu no seu lamento incompreensível, chorando ao meu ouvido mecânico. Pedi desculpa e disse que precisava desligar, desejei-lhe uma boa noite, disse de novo que lamentava, desliguei. Sem a certeza de ter sido engano.

    Devaneios.