Jornalismo (este e o outro)

A entrevista feita por Alexandra Lucas Coelho que saiu no último Ípsilon a propósito de mais um romance de Baptista-Bastos, retoma algumas questões recorrentes sempre que se fala deste (ou com este) jornalista e escritor. Começo por dizer que não sou um seu grande admirador: não aprecio particularmente o estilo da escrita (convém dizer que BB gosta muito de Agustina, Saramago e Mário Cláudio, três escritores portugueses que sinceramente dispenso dos meus planos de leitura), tal como não gosto do tom paternalista e auto-referencial da sua forma pública de falar com os outros e dos outros. Também me distancio de um certo “conservadorismo de esquerda”, marcado pelos requebros de casmurrice e de nostalgia que o caracterizam. Ao mesmo tempo, porém, concordo e simpatizo com algumas das suas posições públicas, nomeadamente com aquelas em que associa o lugar cultural do jornalista (e do jornalismo) a uma atitude de intervenção na vivência da cidadania.

É este aspecto que volta a ter um grande destaque nesta entrevista, ao ponto do suplemento incluir um depoimento de Miguel Sousa Tavares e um artigo de Adelino Gomes nos quais ambos, e particularmente o segundo, procuram contrariar a repugnância de Baptista-Bastos pela defesa do distanciamento e da «santa objectividade» (uma expressão utilizada positivamente por Mário Mesquita) como chaves do «bom jornalismo». Não chego ao ponto de dizer que concordo inteiramente com esta repulsa, pois reconheço que, muitas das vezes, sem um esforço de imparcialidade o jornalismo cai facilmente no panfleto ou, pior ainda do que neste, no território da asneira. Mas parece-me também que o jornalismo engagé e «de tarimba» – não apenas de escola superior, mas de formação, sensibilidade e experiência – faz muita falta para alimentar um nervo mobilizador do interesse (e da paixão) do público, ajudando este, ao mesmo tempo, a definir e a tomar posições. Preferia ler jornais onde um e outro dos estilos pudessem competir na captação de leitores e na diversificação da opinião. Não apenas o jornalismo padronizado, asséptico, «técnico», no qual já nem sequer a diferença determinada pelo estilo e pela personalidade do jornalista muitas vezes se percebe. É este jornalismo que Baptista-Bastos detesta, criticando-o em nome desse outro jornalismo do qual se sente cada vez mais a falta. Eu, pelo menos, sinto.

    Opinião.