Amor em fascículos (2)

amour
O «amor galante» surge, no século XVII, como instrumento fundador de uma ordem das coisas. Na literatura, a paisagem, os caminhos, as colinas, os riachos, os lagos e florestas que envolvem as ligações amorosas, transfiguram-se em função do motivo central: os dois amantes que, descobrindo-se, redescobriam ao mesmo tempo a sua presença no mundo. Uma gama vasta de emoções subtis, de metáforas sucessivas e reveladoras – que a poesia barroca desenvolverá de forma poderosa e obstinada, e que o extremo-romantismo retomará – teatraliza a ligação amorosa, sobrepondo-se a um viver comum que lhe escapa e lhe parece desenvolver-se num território degradado. Amar é, assim, colocar o mundo num palco novo. A galanteria aparece, desta forma, como comédia do amor, tendo lugar no texto mas sem corresponder minimamente às expectativas do autor. Como um fingimento vivido enquanto ocasião de deleite.

    Devaneios.