A ratoeira e os estrábicos

No último número do Courrier Internacional, o dossier «Líbano: escrevem os intelectuais» integra testemunhos de escritores de Israel, da Síria, do Iraque e do Líbano. Todos eles procuram, com o êxito possível, permanecer lúcidos debaixo do fogo da artilharia e do rumor dos brados da rua. Natural de Beirute, Wajdi Mouawad – não interessa esclarecer aqui em que família nasceu ou a que deus é suposto orar – conclui a sua colaboração com um grito de dor que deveria ser ouvido por todos aqueles que se apressam a colocar o bem e o mal inteiramente de um dos lados. «O que é aterrador não é a situação política», diz ali Mouawad, «é a ratoeira em que a situação nos coloca e nos obriga, face à impotência de agir, a fazer uma escolha insuportável: a do ódio ou a da loucura.» Num outro artigo, o poeta sírio Adonis fala-nos do espectro de «uma regressão de três mil anos», determinada pela possível destruição do oásis cultural libanês e pelo triunfo previsível dos extremismos religiosos: «O perigo que hoje se corre é o de um regresso ao tempo dos profetas, dos apocalipses, das guerras e do desespero. Um regresso ao absolutismo.» Coisa que não parece incomodar muito as certezas dos nossos analistas estrábicos a propósito de quem são os bons neste conflito decisivo. Vale a pena comprar este número do CI e lê-lo com os olhos abertos.

    Opinião.