Deco: light or dark?

Neste momento nada me move contra a Deco, a «Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor». Muito pelo contrário: trata-se de uma organização de utilidade e à qual muitos cidadãos recorrem em desespero de causa, quando têm problemas que a simples eficiência do vendedor de televisões, a comprovada simpatia do mecânico do automóvel ou a bondade da funcionária das finanças não possam resolver. Aliás, já fui assinante das revistas Proteste e Dinheiro & Direitos que a Deco edita, e só deixei de o ser pelos motivos absolutamentes supérfluos que se podem depreender daquilo que digo mais abaixo. Mas a Deco mantém também algumas práticas que me parecem pelo menos discutíveis.

Não falo das questões meramente estéticas, que aliás não serão de somenos. Os seus e as suas porta-vozes, vestem todos, absolutamente todos, fatos domingueiros ou saias-e-casaco de baptizado que mais parecem uniformes. E eu não gosto de uniformes. Além disso, as suas publicações têm sempre um grafismo espalhafatoso e ultrapassado, como a publicidade das festas do Santo Padroeiro (para além do hábito estranho de analisarem, muitas das vezes, produtos descontinuados). As campanhas para angariação de sócios, por sua vez, oferecem brindes de quermesse inenarráveis que apresentam como fantásticos gadgets. Mas admito que tudo isto seja irrelevante, resultado da mania parva de tentar meter beleza naquilo que dela não carece para funcionar. Agora o que já me parece bastante discutível é que a Deco não promova campanhas públicas relacionadas com as úteis descobertas que faz, que não divulgue com clareza os nomes das marcas e das empresas prevaricadoras, que disponibilize informação actualizada apenas a sócios pagantes. Esta consideração da defesa do consumidor como uma irrelevância enquanto movimento social seria pouco grave se por aqui existissem outras organizações e movimentos de cidadãos capazes de agirem, em alguns casos, através de iniciativas directas de denúncia pública e de boicote. Assim não sendo, limitamo-nos a uma defesa por intermédio de formulários, requerimentos e cartas registadas com aviso de recepção, a qual, em certos casos, será muito insuficiente. Gostaria de ver a Deco com menos gravatas e mais acção, sinceramente. Até me fazia sócio.

PS – Escrevi ontem este post e hoje mesmo o Público fala da «relação empresarial de subordinação» que a Deco mantém com a sociedade luxemburguesa com fins lucrativos Euroconsumers SA, a qual detém também três quartos do capital da empresa que gere as revistas da organização. O título da notícia é: «Tribunal italiano exclui pareceiros da Deco da lista das associações de consumidores». À atenção dos cidadãos. (20/07/2006)

    Opinião.