Viver depressa, muito depressa

James Dean

A propósito da morte prematura de Amy Winehouse, um despacho da Agência France-Press veio falar-nos de um certo «clube 27». O dos «grandes mitos musicais do século passado» que morreram com esta idade, quando supostamente tanto havia ainda a esperar das suas vidas e do seu trabalho criativo. O despacho lembra alguns, os mais conhecidos: Brian Jones, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Kurt Cobain. É fatal, numa situação destas, evocar a deixa do actor John Derek em Knock on Any Door (O Crime Não Compensa), realizado em 1949 por Nicholas Ray: «Live fast, die young and leave a good-looking corpse». Pouco tempo depois Ray dirigiria James Dean em Rebel Without a Cause (Fúria de Viver, de 1955), onde paira a permanente vertigem da morte prematura, aparentemente sem sentido, e da linha ténue que a separa da vida. Como se cumprisse um destino, Dean morreria pouco tempo depois, aos 24, ao volante do carro com o qual contava participar numa corrida em Salinas. Em qualquer caso, um elo parece unir o trajecto de um conjunto de pessoas que desapareceram naquela altura da vida em que todos ainda nos cremos imortais, circulando sem olhar para o lado no limite do possível e sobre o fio da navalha. A daquelas ou de tantas outras, mais ou menos anónimas, que todos os dias aparecem pelos piores motivos nas páginas dos jornais. Não valerá a pena proclamar princípios de moral comum a propósito das «vidas perdidas» e dos exageros – de álcool, droga, noitadas, sexo, velocidade – daqueles que pagaram por eles o mais alto dos preços. Talvez acreditassem que viver era apenas aquilo, que mais nada valia realmente a pena. Como também não me parece que devam ser transformados em modelo apenas por recusarem os valores da moderação ou da mediania. Podemos talvez conjecturar, com alguma crueza e mórbido egoísmo, sobre como seriam hoje Morrison ou Janis aos 68, o que restaria do seu legado acumulado ao fim de todos estes anos, e se para nós – não para os seus pais, os seus amigos, que sofreram a perda – não terá sido preferível que as coisas se tenham passado daquela triste maneira.

    Cinema, Música, Olhares.