Banda (desenhada e lusa)


Da esquerda para a direita: José Carlos Fernandes, Kim Jong-Il e Luís Henriques

Do lado dos meus autores favoritos de BD – portuguesa ou alienígena – José Carlos Fernandes e Luís Henriques acabam de publicar na Tinta da China A Metrópole Feérica, o volume primeiro de uma série anunciada como Terra Incógnita, autodesignado «atlas ilustrado de criptogeografia, completo e fidedigno inventário cartográfico de cidades desaparecidas, impérios fabulosos, reinos utópicos & outras ocorrências lendárias». A propósito das declarações do director executivo da Lonely Planet, que decepcionado com a revelação de Thomas Kohsstamm sobre o facto deste ter redigido um guia da Colômbia sem sair de São Francisco afirmou publicamente que todos os restantes guias «são credíveis», cita-se na badana um tal Thomas Hook, fundador da Agência de Viagens Estacionárias Couch Potatoe. Uma frase de Hook serve então de mote para a sequência que parece ficar apalavrada: «Pois eu sonho um dia em que todos os guias sejam escritos sem visitar os locais e os viajantes que os seguem se percam e frequentem restaurantes não recomendados, e comam o arranjo floral sobre a mesa julgando tratar-se de um prato típico, e contraiam doenças desconhecidas da medicina, e façam gestos com as mãos que poderão exprimir afecto no Ocidente Civilizado mas que noutras paragens poderão insinuar que o interlocutor mantém relações íntimas e regulares com caprinos (…), e caminhem inadvertidamente de havaianas, boné de baseball e iPod aos berros sobre o túmulo do profeta Al-nasdaq, e sejam perseguidos por uma turba enfurecida que os quer fritar em azeite como punição por tão inimaginável sacrilégio». Como se pode docilmente constatar, um projecto assaz auspicioso que não deixará de cativar o fiel ledor de obras tão supérfluas quanto inquietantes e aprazíveis.

    Olhares.