O sublime do cigarro

Magritte, Belga
René Magritte: projecto de publicidade para os cigarros Belga (1936)

Se existe leitmotiv certo nas imagens que tenho reproduzido nos blogues, ele pode ser encontrado na presença do cigarro. Não se trata de campanha contra o antitabagismo demencial que tem ocupado governantes de diferentes países. Nem de tique de dandy ou de rebelde, procurando no gesto singular a marca da diferença ou da insubmissão. Fui percebendo que o fazia de forma não-consciente, levado, talvez, tanto quanto pelo gosto do tabaco, pela beleza que detecto na volúpia do verdadeiro fumador. Não o viciado em nicotina, que já não fuma por prazer, mas aquele que sabe esperar o justo momento e se pode rever nas palavras de Richard Klein em Cigarettes Are Sublime (Duke Univ. Press, 1993). Assim: «Fumar um cigarro pode ser comparável a escrever um poema: inalando o fumo quente da própria criação, deixando que as palavras no papel possam arder ao ar visível de uma elocução surda, exalando em espiral figuras de desejo, conduzindo, com gestos modulados pelo fumo, uma conversa que ninguém mais pode escutar.»

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