A Gestão segundo T.S.

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Em tempo de crise generalizada, resolvi meter alguma ordem nas finanças domésticas. Tal como muitos outros desajeitados em quaisquer assuntos que envolvam dinheiro, sempre tive o hábito de pôr imediatamente de parte os suplementos de economia dos jornais. Abri uma excepção para o Dia D, talvez por este conter uma secção sobre gadgets de informática e por ser escrito de forma simples, como convém ao leitor completamente leigo nas matérias versadas. Porém, procurando assumir uma nova atitude, resolvi numa destas manhãs olhar no quiosque para as publicações que tratam o dinheiro por tu. Reparei então na capa da Executive Digest, contendo a cara familiar da principal personagem de The Sopranos, com uma chamada de atenção para um livro no qual o boss mafioso de New Jersey surgiria como exemplo para algumas lições elementares de gestão.

Entrei na livraria mais próxima e procurei o livro. Afinal, o autor de A Gestão segundo Tony Soprano não era James Gandolfini, nem Tony himself, mas sim um tal Anthony Schneider, publicitário e fabricante de videogames. Pensando que estava a dar os primeiros passos na direcção de uma boa gestão do meu dinheiro, resolvi não comprar o livro e lê-lo ali mesmo, apenas com o dispêndio de algum tempo livre e a complacência das empregadas (e poupando 12 euros e 48 cêntimos). A espécie de leitura demorou uma meia-hora. Claro que não li tudo, mas julgo que percebi a ideia: propor, com recurso a numerosos exemplos práticos, a adequação das práticas de gestão de uma associação de criminosos à direcção de uma qualquer actividade empresarial lucrativa. Afinal, a Gestão é uma Ciência, com direito a publicações especializadas, prestigiadas escolas superiores e professores catedráticos de obra assaz consagrada, pelo que deve situar-se acima de qualquer parcialidade ou suspeita.

Acabei por copiar um parágrafo, que me pareceu resumir o tom geral da obra:

«Tony Soprano é um líder eficaz porque cada faceta do seu estilo de liderança responde às necessidades do seu negócio, responde aos desafios postos pelos concorrentes e reflecte o modo como a sua gente trabalha. Como o seu ambiente de negócios está em constante mutação, Tony é rápido, flexível e directo. Como a sua empresa se estende por diversas áreas e repousa em parcerias complexas, é decisivo e rápido a implementar mudanças. Como o seu negócio tem tudo a ver [sic] com pessoas, ele valoriza a confiança, o respeito e a responsabilidade, e sabe como delegar. Como a sua indústria é difícil e os tempos são duros, tem uma visão clara da sua vida e do seu trabalho e pressiona os subordinados e os parceiros para tirar o melhor dessa visão. Como quer que a sua equipa tenha êxito, instila confiança e ama a sua gente. quando há acordos, negoceia rapidamente e bem. quando surgem conflitos, resolve-os. (…) A atitude de Tony Soprano é ideal para os negócios e a economia global de hoje.»

Fiquei pois a saber que para se ser um bom gestor não é necessário ter elevados princípios morais e é inteiramente proibido o exercício da franqueza. Aquilo que conta são os objectivos e, como se diz ultimamente a propósito de tudo e de nada, «as competências». Admitindo a ausência de jeito, desconfio que ainda não seja desta que me converto a uma mini-carreira de gestor.

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