Sydney, a outra

Assusta-me a ideia de viajar até à Grande Ilha: enorme a distância, longas horas encapsulado num Boeing, a companhia de sujeitos que trazem tatuado o crime e o degredo. Resisto também à destruição das ideias-feitas. Já me chega Chatwin, no Canto Nómada (The Songlines), descrevendo aquele aborígene, sentado num bar esconso algures perto de Alice Springs, que fazia imitações bastante convincentes de Bob Marley, Jimmy Hendrix e Frank Zappa. Quero preservar os clichés: as avionetas sobre o deserto, o vulto longínquo de alguns cangurús, boomerangs em perigoso voo rasante, sombreiros à Crocodilo Dundee, jogadores de rugby com os bícepes de um Mike Tyson ruivo, e, claro, o edifício da Ópera concebido por um dinamarquês um tanto dado a visões. 30 Dias em Sydney, de Peter Carey (Asa), transporta-me, porém, para qualquer coisa de estranhamente diverso. As «envolventes falésias amarelas», as «ondas lentas, alongadas», o «deslumbrante tom azul com laivos róseos a despontar da espuma na rebentação». Reflectindo a cidade visível de aço, vidro e asfalto, sinal de futuro sob o efeito solar.

    Devaneios.