Dezasseis anos depois

Uma das amigas do Facebook que não conheço apenas da persona que sugere o seu avatar, lembrou-se de como poucos dos muitos que visitaram a Expo-98 se recordarão hoje do que lá foram fazer. E de que ninguém com menos de 20 anos saberá sequer dizer que coisa foi o evento. Ocorreu-me entretanto que em 2006, para testar a velocidade do esquecimento dos meus alunos, perguntei num curso que acontecimento tivera lugar em Portugal no ano de 1998 que, projetado também numa dimensão internacional, pela positiva ou pela negativa suscitara a atenção da generalidade do país. Nenhum foi então capaz de referir a Expo, e só depois de eu ter revelado a resposta alguns se lembraram de a ter visitado. Embora já quase o tivessem esquecido.

Fazendo agora o meu próprio esforço de rememoração, percebo que também já de pouca coisa me recordo. Talvez dos comboios matinais apinhados a despejar pessoas na Gare do Oriente, do calor excessivo, do concerto do Caetano, das cores do Oceanário novo em folha ou da mistura de línguas e de odores particularmente sentidos na área dos restaurantes, numa época em que no país ainda poucos espaços existiam para comer que não fossem de cozinha portuguesa ou de uma ainda incipiente fast food. Recordo também, se não é a estúpida memória a confundir-me, de um clima de mal-disfarçada euforia, anunciando um país otimista, projetado para a linha da frente de um desenvolvimento assente no betão, no asfalto e em promissoras linhas de crédito.

Houve mais? Talvez, mas no que me toca só consigo recordar verdadeiramente o episódio que contei a essa amiga. Aconteceu no pavilhão da Finlândia, solidamente erguido com vigas de aço e blocos de gelo. Havia por lá uma cabina móvel para três pessoas que simulava uma viagem pelo calor vulcânico e pelo gelado vento polar, que partilhei com duas freiras vestidas a rigor e perdidas de riso. Também me ri um pedaço com elas, como não podia deixar de acontecer. Como resultado palpável desse momento, deixei de ver a vida monástica da mesma maneira e constipei-me. O resto sinceramente eclipsou-se.

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