Carpe diem

Boa parte do que muitas pessoas de diferentes gerações, a minha incluída, aprenderam ao longo da vida, ficou a dever-se, pelo menos na génese, à leitura de revistas e jornais. Não apenas por causa dos acontecimentos noticiados ou de artigos sobre este ou aquele assunto, mas pela própria riqueza dos textos recolhidos. Muitos jornalistas, ou pessoas que colaboravam com as publicações, sabiam fazê-lo com mestria, suscitando sempre o conhecimento ou a curiosidade. Mesmo num pequeno apontamento, numa entrevista, num comentário, sabiam juntar sempre uma nota de saber que assim era transmitida e recolhida de uma forma natural, sem esforço e sem prejudicar a clareza, ajudando a alargar o universo de conhecimento e de interesses do leitor. Faz-nos muita falta agora – porque agora rara, muito rara – essa forma, simples mas eficaz, de passar o saber acumulado.

Lembro isto ao ler num jornal, a propósito da morte de Robin Williams, uma referência ao facto deste ter «celebrizado a expressão ‘carpe diem’». Referia-se a jornalista ao papel de Williams no filme O Clube dos Poetas Mortos, dirigido por Peter Weir e estreado em 1989. Só que o personagem John Keating, o inesquecível professor de literatura que tão bem sabia motivar os seus alunos, citava ali um verso retirado de uma ode de Horácio, o poeta romano do século I a.C., profusamente utilizado no trajeto intelectual do ocidente. Afinal, a ideia de aproveitar o dia, de fruir o momento que passa, não foi «celebrizada» por uma «celebridade», mas retirada de uma tradição com já mais de dois mil anos. Lá escrevia Horácio, «dum loquimur, fugerit invida aetas: carpe diem quam minimum credula postero». Como quem diz, traduzindo muito, muito livremente, «enquanto falamos, já terá fugido o invejoso tempo: colhe o dia que passa, confiando menos no de amanhã». As pobres «celebridades» voam depressa e desaparecem no horizonte; o conhecimento, esse fica.

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