Da fábrica dos sonhos

Porque não sonhei eu com um iPhone3G? A maneira mais expedita de responder à pergunta será dizer: porque é bastante caro. Ou então: porque me afligiu o grau de compulsão e de desejo induzido e reproduzido pelos média à volta do pequeno objecto de consumo fabricado pela Apple. Vi mesmo olhos brilhantes na apresentação pública: um homem de barba grisalha procurando esconder a excitação, uma rapariga com o aparelho na mão falando da concretização do seu «maior sonho», outra chorando de emoção enquanto estoirava as economias de um ano inteiro. A verdade, porém, é que comigo esses argumentos poderiam ainda não ser suficientes para justificar a recusa, uma vez que por vezes gasto somas um pouco imorais em acessórios electrónicos que me acompanham para todo o lado. A forma mais exacta e honesta de justificar o desinteresse será então dizer que tenho um telemóvel, um PDA e um iPod que, juntos ou combinados, superam de longe as melhores expectativas que pudessem ter sido criadas em relação às reais capacidades do novíssimo iPhone.

Sem dúvida que é mais útil – e somando os custos até poderá resultar mais económico – trazer no bolso um «tudo em um». Fino, leve e com um design realmente brilhante e sedutor. Ou mesmo sexy, como o considerará um geek ou aquele viciado em gadgets que a esta hora já andará à procura de uma capinha cor de abóbora para o seu aparelho. Mas quando vejo que a versão topo de gama deste novo brinquedo imaginado por Steve Jobs tem capacidade para uns limitados 16 gigas de informação multimédia, não possui câmara para videochamadas, oferece uma câmara fotográfica com uma resolução de apenas 2 megapixéis e sem flash, não deixa que troquemos a bateria, não traz rádio, nem teclado mecânico, nem um miniprocessador de texto decente, pergunto-me se valerá a pena gastar 600 euros apenas para ir atrás da publicidade da Optimus, da Vodafone e dos senhores da maçã. Para pairar na crista da onda, dar nas vistas em público ou encher de inveja os colegas de trabalho. Para mim, não vale: esperarei uns tempos até que a geringonça melhore bastante e desça de preço. Até lá, continuarei a torrar o pão com uma torradeira, enquanto telefono com um telemóvel 3,5G que custou metade do preço e deixa o iPhone a muitas milhas de distância.

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