O regresso das power ballads

Isqueiros

C. fumava em público e orgulhava-se de não pagar licença de isqueiro. Para o provar, exibia durante cinco segundos um daqueles encendedores espanhóis, de cordão em fibra de algodão, que se guardavam ainda em brasa no bolso das calças. Creio que a chama se extinguia pela rarefacção do oxigénio. E, que me lembre, o único problema detectado consistia, principalmente para os outros, num intrigante cheiro a tecido queimado. Por mim, sempre preferi os fósforos. Até ao dia no qual fiz o upgrade para o meu primeiro isqueiro de usar e deitar fora.

Eu e C. seguimos caminhos muito diferentes. Encontrei-o há dias num almoço revivalista: próspero, continua fumador, mas serve-se agora de um caríssimo Bugatti. Por mim, fiel às origens e para me prevenir das consequências da actual fúria proibicionista, comprei hoje uma dúzia de vulgares acendedores em plástico. Se os novos fiscais dos isqueiros me apanharem, posso sempre inventar que sou fã dos Scorpions e que apenas me sirvo deles para acompanhar power ballads em concertos ao vivo.

    Apontamentos.