As pedras da calçada, ainda

Força já o bocejo a lengalenga sobre a impossível analogia que podemos estabelecer entre a rebelião estudantil francesa que se desenrola «sem horizontes definidos», e aqueles combates em redor de 1968 «que invocavam utopias futuras» (palavras de um daqueles invariavelmente seguríssimos textos dominicais de Mário Mesquita). Claro que a distância entre os dois momentos é enorme, como enorme é a separação abissal – ou «abismal», tal qual escreve e vulgariza a novilíngua jornalística – que distingue o actual meio estudantil daquele que existia há quatro décadas atrás (distância muito maior, sem dúvida, do que aquela que separa actualmente as realidades e as expectativas dos estudantes universitários franceses, portugueses ou mexicanos). Mas parece continuar sem se reconhecer a existência de um estado juvenil de «prontidão para a revolta», que, sendo historicamente recorrente a partir do pós-guerra, tem funcionado sempre como expressão de um profundo mal-estar e sinal de uma vontade de mudança tão intensa quanto mobilizadora. E que não é um simples caso de polícia.

    Opinião.